Por que as intervenções de grupo são melhores que as intervenções individuais?

Diversos países da América do Norte e da Europa já reconhecem os frutos positivos das terapias em grupo e ressaltam a sua importância no poder de cura.

No Brasil, a maioria das pessoas procura ajuda individual para as suas necessidades relacionadas à saúde física e mental. Elas vão aos profissionais de saúde em busca de uma consulta individual. Contudo, isso é muito diferente nos países da América do Norte e da Europa, onde os grupos voltados para educação da saúde mental são muito comuns.

Mas, os grupos podem mesmo me ajudar?

Em países como o Brasil, as pessoas se perguntam se os grupos podem, de fato, ajudá-las, pois consideram que o problema delas só elas vivem e, principalmente, porque elas não gostariam de serem expostas em suas intimidades, como no caso da saúde física e mental.

Contudo, as pesquisas mostram que intervenções grupais são mais eficazes do que as individuais. 

Diversos são os motivos que explicam esse fenômeno. Contudo, focaremos nos fatores terapêuticos propostos por Irvin Yalom (2006), um respeitado pesquisador de grupos. Ele afirma que a mudança terapêutica é um processo muito complexo que ocorre por sensíveis experiências humanas chamadas “fatores terapêuticos”. O autor descreveu 11 fatores, mas aqui vamos enfatizar 6 deles, relacionando-os aos pilares da Medicina do Estilo de Vida:

1. Instilação de esperança

A esperança é um importante motivador para a mudança. 

Estudos mostram que a esperança anterior ao tratamento está direta e positivamente relacionada ao seu sucesso. Os grupos podem influenciar positivamente a instilação de esperança porque os exemplos de conquistas dos indivíduos do grupo são inspiração para os outros. Ao verem esses exemplos, as pessoas pensam: “Se ele conseguiu, eu também posso conseguir”. Considere esse fator curativo relacionado ao pilar atividade física regular da Medicina do Estilo de Vida. A esperança, instigada pelos membros do grupo, é fator altamente motivador da criação do hábito de se exercitar fisicamente, visto que um hábito exige a constância. Quando uma pessoa diz no grupo que ela não está conseguindo realizar uma atividade, ou que ela anda desanimada ou se machucou, os membros do grupo a motivam oferecendo a esperança de que essa fase vai passar. Eles a lembram do que eles aprendem em grupo, dando força para que ela siga adiante.

2. Universalidade

Porque as pessoas pensam que seus problemas são singulares, ou seja, que apenas elas os possuem, a participação em um grupo faz com que elas eliminem essa crença. 

Esse fator é chamado Universalidade por Irvin D. Yalom, mas Kritin Neff (2017) o denominou “Humanidade Comum”. Saber que todos compartilham da mesma experiência humana é altamente confortador, pois, se todos sofrem similarmente, significa que o sofrimento individual é apenas parte da humanidade e da vida. Nesse sentido, além de o problema perder a força e o poder, a motivação para a mudança aumenta.

Pense no pilar manejo do estresse da Medicina do Estilo de Vida e o relacione com esse fator terapêutico. Em grupo, as pessoas reconhecem que o estilo de vida atual envolve uma rotina estressante, a qual exige alto desempenho em diferentes papéis e ainda um equilíbrio físico e emocional.  

Os membros do grupo percebem que todos passam pelas mesmas circunstâncias e sofrem as mesmas pressões e consequências como o estresse. Esse fato conforta e, simultaneamente, motiva para a mudança rumo ao estilo de vida menos estressante.

3. Compartilhamento de informações

Este fator terapêutico está relacionado ao conjunto de informações educacionais recebidas pelo integrante de um grupo. 

Normalmente, em um grupo terapêutico eles aprendem muito sobre o funcionamento do corpo e da mente e como manter a sua saúde, prevenindo doenças físicas e mentais.

Considerem o pilar dieta saudável da Medicina do Estilo de Vida relacionada a esse fator terapêutico. A mudança é favorecida pelo fato de os membros aprenderem juntos a alimentação saudável. Estudos mostram que, quando uma pessoa faz uma pergunta, cerca de 10 outras pessoas estavam com a mesma dúvida. Além disso, as pessoas continuam trocando informações por outros meios de comunicação, o que provavelmente não ocorreria em intervenções individuais.

4. Altruísmo

Nos grupos focados em uma mudança de estilo de vida, os membros ganham muito. Não apenas por receberem informações e cuidados, mas por oferecerem um suporte adequado.

A reciprocidade, ao dar e receber, tem um poder de cura demonstrado por muitos estudos. Muito relacionado ao fator terapêutico da universalidade, ao descobrirem que podem ser úteis para os outros ao oferecerem ajuda, os membros do grupo que, muitas vezes começam o processo terapêutico desmoralizados, passam a se sentir com valor. 

Os membros oferecem apoio, tranquilização, sugestões e insigths entre si de uma maneira que o terapeuta não poderia oferecer, pois, para eles o terapeuta é o profissional e os membros são o mundo real.

Pense nesse fator terapêutico relacionado ao pilar sono adequado da Medicina do Estilo de Vida. Quando as pessoas aprendem em grupo os conhecimentos acerca da ciência do sono, e percebem que o excesso de estimulação e a exposição à iluminação artificial comuns na atualidade desregulou o nosso relógio biológico, elas começam a se apoiar na mudança dos hábitos relacionados à higiene do sono.

5. Aprendizagem interpessoal

Esse fator terapêutico é complexo e muito importante. Pelo fato de o grupo terapêutico funcionar em ambiente seguro emocionalmente, os seus membros podem se expor, podem experimentar se expressarem mais aberta e livremente com o apoio do profissional de saúde e dos outros membros.

Isso faz com que o grupo funcione como um microcosmo social, ou seja, o membro treina e reconstrói crenças e comportamentos no grupo para depois os utilizarem fora.

Pense nesse fator terapêutico relacionado ao pilar manejo dos vícios da Medicina do Estilo de Vida. Os membros do grupo têm muito mais chance de manejar e controlar seus vícios se têm a oportunidade de aprendizagem interpessoal em grupo. 

Esse é o caso do grupo de apoio Alcoólicos Anônimos (A.A.), o grupo mais eficaz entre todos do mundo. Apesar de todas as críticas sofridas em relação ao método e em relação à falta de suporte profissional e técnico do programa, ele continua sendo um grupo sólido e eficaz. 

Cerca de 2,1 milhões de pessoas procuram a ajuda do A.A. a cada ano, e até 10 milhões de alcoólatras alcançaram a sobriedade através do grupo. O programa funcionada  atacando os hábitos que instigam o consumo do álcool e alterando os seus loops. Lee Ann Kaskutas, uma cientista sênior do Alcohol Research Group, afirma que o grupo de apoio Alcoólicos Anônimos (A.A.) é um método para atacar os hábitos que cercam o uso do álcool, mudando seus loops. Contudo, afirma ela, o processo de mudança se faz através das pessoas no A.A., não do programa do A.A. propriamente dito. O programa do A.A. ataca o problema de base que, para o programa, é o alcoólatra autocentrado e espiritualmente debilitado. 

6. Coesão grupal

Esse fator terapêutico está relacionado ao forte vínculo estabelecido em um grupo terapêutico. Muitas vezes, as pessoas vão para a academia, escola e empresa muito mais motivadas pelas relações estabelecidas do que pelo objetivo institucional. Do contrário, muitas vezes uma criança gosta de estudar, mas não quer mais ir à escola devido aos relacionamentos por lá estabelecidos. 

A coesão grupal pode levar uma nação inteira, ou mesmo o mundo, tanto ao caos (guerras), quanto às grandes conquistas, por exemplo, a conquista por direitos humanos. Os relacionamentos interpessoais são tão importantes que constituem um dos pilares da Medicina do Estilo de Vida.

Considere o pilar relacionamentos interpessoais favoráveis da Medicina do Estilo de Vida relacionado a esse fator terapêutico. A coesão grupal, além de favorecer a sensação de um sólido apoio, inspira os membros do grupo a estabelecerem relacionamentos saudáveis em suas vidas, bem como criarem coragem para se desvincularem de relacionamentos tóxicos.

As pessoas comparam seus relacionamentos na vida diária com o relacionamento interpessoal, o tipo de vínculo e conexão que elas experimentam no grupo terapêutico. Elas tentam levar o apoio, o respeito, a valorização e a sensação de segurança experimentada no grupo terapêutico para os seus relacionamentos pessoais.

Os grupos são tão benéficos para a mudança que, independentemente da sua configuração, ou seja, se o grupo é terapêutico (tem um profissional de saúde que o coordena), grupo operativo ou grupos de apoio (sem profissional de saúde na coordenação), todos eles apresentam os fatores terapêuticos listados.

A frase \”Juntos somos mais fortes\” vai para além do clichê

Sabemos que a aprendizagem e a mudança dependem de fatores pessoais, por exemplo, a fase de mudança em que as pessoas se encontram ou mesmo as condições individuais de saúde, bem como seu contexto social, econômico e cultural.

Contudo, na Medicina do Estilo de Vida, aprender em grupo pode ser muito mais benéfico do que individualmente, pois, o apoio, o espelhamento da experiência do outro, a sensação de segurança e a esperança serão as fontes do aprendizado e da motivação para a mudança de seus membros.

× Como posso te ajudar?